"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce."
Cidades são como perfumes, podemos nos sentir atraídos pelo invólucro, podemos até testar num canto da pele, mas para realmente as adoptarmos temos que as usar, temos que as viver, para ver como é que reagem connosco, com o nosso ser e com as nossas aspirações e sonhos. Depois vamos experimentando, até encontrarmos a que combina com o estado de espírito de um dado período da nossa vida.
A minha cidade é Nova Iorque, porque nos identificamos e reconhecemos mutuamente e porque vivemos ao mesmo ritmo frenético. Há muitos anos atrás, houve uma promessa feita entre as luzes da cidade-feita-cenário pela distância entre a mesma e o topo do Empire State Building onde me encontrava, de que aquele pulsar, embora naquele momento para mim silencioso, ia ser um dia chamado de casa. Se hoje sou uma New Yorker, antes, por cinco anos, fui uma Londoner e, assim, já são quase sete anos de traição a Lisboa, mas uma traição muito fiel a mim própria.
Eu apenas comparo as duas cidades nas suas similaridades, ambas são cosmopolitas e imensas. Londres foi a realização de um objectivo que correu ainda melhor do que o planeado. O desabrochar para o mundo, o passar de recém-licenciada a mestranda e depois o salto para o mundo das mega-consultoras.
O que há de tão extraordinário sobre Manhattan? As cores, os cheiros e os sons, os tambores em Central Park e no metro em Union Square e as notas do saxofone escutadas aqui e ali. Uma cidade com uma vibração positiva como não senti outra, uma cidade onde todos os habitantes acham que estão na melhor cidade do mundo. O turbilhão de acontecimentos e de oferta cultural, a mescla de culturas, línguas e nações. Mas ainda assim, uma cidade com uma identidade única, parte lenda, parte realidade.
Para além da identidade da cidade, há as características dos que a elegem para morada. São os chamados tipo-alfa, para os quais apenas existe vencer e alcançar. Work hard and play hard, é o mote desta cidade. Depois, a Agon, tudo nesta cidade é competição. Numa entrevista que li no outro dia, Keith Jarrett disse que não imaginava o jazz ter nascido noutro país que não os Estados Unidos, ele acrescentava que a natureza do jazz é risco, e quando improvisado, é o equivalente musical a um circo sem rede de segurança. Por isso o jazz e Nova Iorque estão tão intimamente ligados, aqui a vida flui sem rede de segurança, aqui tudo é tudo ou nada.
O porquê desta coluna? A provocação irresistível de partilhar a minha vivência nesta mega-metrópole e noutros pontos do mundo.
"Para ser grande, sê inteiro:
Cidades são como perfumes, podemos nos sentir atraídos pelo invólucro, podemos até testar num canto da pele, mas para realmente as adoptarmos temos que as usar, temos que as viver, para ver como é que reagem connosco, com o nosso ser e com as nossas aspirações e sonhos. Depois vamos experimentando, até encontrarmos a que combina com o estado de espírito de um dado período da nossa vida.
A minha cidade é Nova Iorque, porque nos identificamos e reconhecemos mutuamente e porque vivemos ao mesmo ritmo frenético. Há muitos anos atrás, houve uma promessa feita entre as luzes da cidade-feita-cenário pela distância entre a mesma e o topo do Empire State Building onde me encontrava, de que aquele pulsar, embora naquele momento para mim silencioso, ia ser um dia chamado de casa. Se hoje sou uma New Yorker, antes, por cinco anos, fui uma Londoner e, assim, já são quase sete anos de traição a Lisboa, mas uma traição muito fiel a mim própria.
Eu apenas comparo as duas cidades nas suas similaridades, ambas são cosmopolitas e imensas. Londres foi a realização de um objectivo que correu ainda melhor do que o planeado. O desabrochar para o mundo, o passar de recém-licenciada a mestranda e depois o salto para o mundo das mega-consultoras.
O que há de tão extraordinário sobre Manhattan? As cores, os cheiros e os sons, os tambores em Central Park e no metro em Union Square e as notas do saxofone escutadas aqui e ali. Uma cidade com uma vibração positiva como não senti outra, uma cidade onde todos os habitantes acham que estão na melhor cidade do mundo. O turbilhão de acontecimentos e de oferta cultural, a mescla de culturas, línguas e nações. Mas ainda assim, uma cidade com uma identidade única, parte lenda, parte realidade.
Para além da identidade da cidade, há as características dos que a elegem para morada. São os chamados tipo-alfa, para os quais apenas existe vencer e alcançar. Work hard and play hard, é o mote desta cidade. Depois, a Agon, tudo nesta cidade é competição. Numa entrevista que li no outro dia, Keith Jarrett disse que não imaginava o jazz ter nascido noutro país que não os Estados Unidos, ele acrescentava que a natureza do jazz é risco, e quando improvisado, é o equivalente musical a um circo sem rede de segurança. Por isso o jazz e Nova Iorque estão tão intimamente ligados, aqui a vida flui sem rede de segurança, aqui tudo é tudo ou nada.
O porquê desta coluna? A provocação irresistível de partilhar a minha vivência nesta mega-metrópole e noutros pontos do mundo.
"Para ser grande, sê inteiro:
nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago
a lua toda brilha,
porque alta vive."
Fernando Pessoa
[Publicado no Semanário Económico - 25 de Maio, 2007]