Em vez de um horizonte perdido, uma mudança de cenário, ou melhor, várias mudanças de paisagem na linha do horizonte.
Primeiro, a descoberta de uma cidade, Edimburgo, com os seus edifícios cheios de história, preponderantemente em estilo Georgiano, e uma luz que lembra sempre Outono quando o sol se lembra de despontar, pelo dourado da luz reflectida nas paredes de pedra calcária dos prédios. Uma cidade que vive a um ritmo mais sossegado e onde os estabelecimentos encerram cedo. Como dizia um escocês que vive em Edimburgo e que tinha visitado Nova Iorque, "eu nunca conseguiria viver em Nova Iorque, é bom para visitar, mas muito acelerado para viver". No meu caso, o oposto, mas tudo está bem quando se vive na cidade que se elegeu para morada.
Depois, as Highlands, com o Loch Ness incluído. As paisagens são de um verde intenso, devido ao clima geralmente húmido e chuvoso, com um toque de mística pela névoa que rodeia os cumes montanhosos e com água em profusão a correr em cascatas e lagos de perder de vista, como que se os vales, ou glens, na terminologia gaélica, fossem uma manta de retalhos verdes, azuis e cinzentos de gradações várias. A beleza natural da Escócia convida a largas caminhadas, num acto de comunhão total com a natureza. Não o fiz, mas assim que se vislumbra da estrada a West Highland Way, o percurso mais famoso da Escócia, que vai desde Glasgow até Fort William, é fácil imaginar as motivações por trás dos inúmeros caminhantes.
No fundo, a grande questão é, o que buscamos (se buscamos algo) quando viajamos por terra, água ou ar. Qual é o dínamo de cada jornada. Uma sede de desconhecido? Uma curiosidade inata que nos leva a desafiar as nossas próprias fronteiras através do cruzar de fronteiras políticas? Acima de tudo, existe a vontade de ir, as razões percebem-se melhor depois, quando já se foi, viu e voltou.
Mas, por vezes, fica-se. Por vezes, as viagens transformam-se em meses e anos. Passamos de meros espias de uma casa alheia a moradores. Revisitei Londres, onde um dia fui e decidi morar. Na bagagem, as saudades dos amigos para matar. A latere, visitar os bairros onde vivi, Notting Hill, Bloomsbury e Chelsea, por esta ordem; passear nas ruas, sentir novamente aquela atmosfera tão própria desta cidade; os mercados de fim de semana; descobrir novas lojas e restaurantes; também os locais familiares, na expectativa de ver se ainda existem; e obter os produtos de sempre, os poucos que não se conseguem também encontrar em Nova Iorque. É como voltar a vestir uma peça de roupa que já não se usava há muito tempo, já não nos lembramos com o que é que a costumávamos usar e até, talvez, nos apeteça usar de outra forma. Aliás, a experiência é muito diferente, porque já não tem a etiqueta com o nome casa. Home is New York now.
Primeiro, a descoberta de uma cidade, Edimburgo, com os seus edifícios cheios de história, preponderantemente em estilo Georgiano, e uma luz que lembra sempre Outono quando o sol se lembra de despontar, pelo dourado da luz reflectida nas paredes de pedra calcária dos prédios. Uma cidade que vive a um ritmo mais sossegado e onde os estabelecimentos encerram cedo. Como dizia um escocês que vive em Edimburgo e que tinha visitado Nova Iorque, "eu nunca conseguiria viver em Nova Iorque, é bom para visitar, mas muito acelerado para viver". No meu caso, o oposto, mas tudo está bem quando se vive na cidade que se elegeu para morada.
Depois, as Highlands, com o Loch Ness incluído. As paisagens são de um verde intenso, devido ao clima geralmente húmido e chuvoso, com um toque de mística pela névoa que rodeia os cumes montanhosos e com água em profusão a correr em cascatas e lagos de perder de vista, como que se os vales, ou glens, na terminologia gaélica, fossem uma manta de retalhos verdes, azuis e cinzentos de gradações várias. A beleza natural da Escócia convida a largas caminhadas, num acto de comunhão total com a natureza. Não o fiz, mas assim que se vislumbra da estrada a West Highland Way, o percurso mais famoso da Escócia, que vai desde Glasgow até Fort William, é fácil imaginar as motivações por trás dos inúmeros caminhantes.
No fundo, a grande questão é, o que buscamos (se buscamos algo) quando viajamos por terra, água ou ar. Qual é o dínamo de cada jornada. Uma sede de desconhecido? Uma curiosidade inata que nos leva a desafiar as nossas próprias fronteiras através do cruzar de fronteiras políticas? Acima de tudo, existe a vontade de ir, as razões percebem-se melhor depois, quando já se foi, viu e voltou.
Mas, por vezes, fica-se. Por vezes, as viagens transformam-se em meses e anos. Passamos de meros espias de uma casa alheia a moradores. Revisitei Londres, onde um dia fui e decidi morar. Na bagagem, as saudades dos amigos para matar. A latere, visitar os bairros onde vivi, Notting Hill, Bloomsbury e Chelsea, por esta ordem; passear nas ruas, sentir novamente aquela atmosfera tão própria desta cidade; os mercados de fim de semana; descobrir novas lojas e restaurantes; também os locais familiares, na expectativa de ver se ainda existem; e obter os produtos de sempre, os poucos que não se conseguem também encontrar em Nova Iorque. É como voltar a vestir uma peça de roupa que já não se usava há muito tempo, já não nos lembramos com o que é que a costumávamos usar e até, talvez, nos apeteça usar de outra forma. Aliás, a experiência é muito diferente, porque já não tem a etiqueta com o nome casa. Home is New York now.
[Publicado no Semanário Económico - 29 de Junho, 2007]