Numa cidade onde cada minuto tem o valor de um nanossegundo. A hora de ponta em Nova Iorque é uma epopeia em prol da eficiência que narra o feito de chegar de A a B no menor espaço de tempo possível. As mulheres desfazem-se dos saltos e os homens dos blazers para se poderem movimentar mais rapidamente. Põem-se os "fones" nos ouvidos para que o momento possa ainda ser um momento individual apesar de se estar no meio de uma multidão, por vezes, demasiado próxima e compacta.
Quem vive em Manhattan passa os primeiros momentos matinais nos transportes públicos, num cruzar de passos apressados e corridas para conseguir ainda apanhar aquele metro quase a partir. Jornal, livros e iPod em riste para tornarem úteis uns minutos desperdiçados. Depois, os contrastes, numa cidade que vive a dois ritmos, o desenfreado e o criativo, o que não tem um minuto a perder e o que se encosta a cada manhã ou noite na esquina do metro, com o rosto sulcado de estórias de outros países e de outros continentes, um passado de séculos, não apenas de anos, somados a apresentados ali, onde o mundo conflui, por vezes demasiado apressado para realmente absorver e se inebriar com aquela música. Em notas que dizem eu não quero a tua vida, quero o teu dinheiro, mas se não me deres nada toco à mesma, porque é a tocar que eu vivo, se não tocar o coração para de bater e a paixão esvai-se.
Numa cidade que para tornar ainda mais rápida a sua navegação tem as suas coordenadas afixadas em cada esquina numa cadência lógica de números que se cruzam com avenidas também numeradas. Aqui, normalmente o mapa fica em casa, tudo o que se precisa saber são os pontos cardeais e tomar alguns prédios como pontos de referência. Tudo se complica, no entanto, quando as ruas não seguem uma fórmula numérica e adoptam nomes, como na zona de downtown onde moro. No passado fim-de-semana uma visita para jantar quase que se perdeu porque não tinha a "grelha" numerada como guia.
Mas apesar do caos organizado, ainda há quem veja estrelas no céu Nova Iorquino e faça delas objecto de enormes telas. Desde este passado fim-de-semana está patente no Guggenheim uma retrospectiva do pintor expressionista abstracto americano Richard Pousette-Dart. Quadros que se apresentam à vista repletos de textura e de dinamismo, numa invocação do cosmos e de outros símbolos tão imateriais ao olho humano como os astros; em suma, uma viagem pessoal para o observador que o abstraccionismo proporciona como nenhum outro movimento artístico. Um pouco mais a Sul experimenta-se uma sinfonia em forma de outra cidade, desta feita, Berlim, na Neue Galerie com uma exposição que celebra o famoso quadro por Ernst Ludwig Kirchner, Berlin Street Scene. Mais uma vez, o pulsar de uma cidade em pinceladas que falam mais do que mil palavras.
Quem vive em Manhattan passa os primeiros momentos matinais nos transportes públicos, num cruzar de passos apressados e corridas para conseguir ainda apanhar aquele metro quase a partir. Jornal, livros e iPod em riste para tornarem úteis uns minutos desperdiçados. Depois, os contrastes, numa cidade que vive a dois ritmos, o desenfreado e o criativo, o que não tem um minuto a perder e o que se encosta a cada manhã ou noite na esquina do metro, com o rosto sulcado de estórias de outros países e de outros continentes, um passado de séculos, não apenas de anos, somados a apresentados ali, onde o mundo conflui, por vezes demasiado apressado para realmente absorver e se inebriar com aquela música. Em notas que dizem eu não quero a tua vida, quero o teu dinheiro, mas se não me deres nada toco à mesma, porque é a tocar que eu vivo, se não tocar o coração para de bater e a paixão esvai-se.
Numa cidade que para tornar ainda mais rápida a sua navegação tem as suas coordenadas afixadas em cada esquina numa cadência lógica de números que se cruzam com avenidas também numeradas. Aqui, normalmente o mapa fica em casa, tudo o que se precisa saber são os pontos cardeais e tomar alguns prédios como pontos de referência. Tudo se complica, no entanto, quando as ruas não seguem uma fórmula numérica e adoptam nomes, como na zona de downtown onde moro. No passado fim-de-semana uma visita para jantar quase que se perdeu porque não tinha a "grelha" numerada como guia.
Mas apesar do caos organizado, ainda há quem veja estrelas no céu Nova Iorquino e faça delas objecto de enormes telas. Desde este passado fim-de-semana está patente no Guggenheim uma retrospectiva do pintor expressionista abstracto americano Richard Pousette-Dart. Quadros que se apresentam à vista repletos de textura e de dinamismo, numa invocação do cosmos e de outros símbolos tão imateriais ao olho humano como os astros; em suma, uma viagem pessoal para o observador que o abstraccionismo proporciona como nenhum outro movimento artístico. Um pouco mais a Sul experimenta-se uma sinfonia em forma de outra cidade, desta feita, Berlim, na Neue Galerie com uma exposição que celebra o famoso quadro por Ernst Ludwig Kirchner, Berlin Street Scene. Mais uma vez, o pulsar de uma cidade em pinceladas que falam mais do que mil palavras.
Richard Pousette-Dart, Night Landscape (1969-71)
[Publicado no Semanário Económico - 24 de Agosto, 2007]