Sep 22, 2007

NY Diaries 15: NY Fashion Week


Falar de moda é, por vezes, falar de clichés. Todos nós acabamos por ter uma opinião sobre a indústria, sobre os modelos, enfim, sobre o que está em voga. Em Nova Iorque o mundo da moda manifesta-se de diversas formas, no entanto, na altura da New York Fashion Week, a cidade é tomada de assalto e passa a girar em torno deste eixo, em particular. Mesmo quem não segue de perto o que se passa nesta esfera, sabe que algo está a acontecer na cidade. De 5 a 12 de Setembro, Nova Iorque reverberou de actividade, o show saiu às ruas, as celebridades confluíram à ilha chamada Manhattan, viram-se mais limusinas e os hotéis e restaurantes in encheram e foram o cenário de diversas festas.

Maquilhagem, cabelo, unhas, acção. O local para estar e ser visto nesta semana é, precisamente, os desfiles de moda que constituem o prato principal da Fashion Week. Isto, quando o trabalho o permite. Se para os profissionais do mundo da moda, literalmente, dos quatro cantos do mundo, a atenção está, naturalmente, focada no que se passa na passerelle, para os restantes de nós, com profissões a tempo inteiro noutros sectores de actividade, há que coordenar agendas. No entanto, tudo é possível.

Dos desfiles a que assisti, destaco dois. Um, o desfile da linha Z Zegna, a versão mais urbana e descontraída de Ermenegildo Zegna, porque só podia ter acontecido no contexto do cenário Nova Iorquino. No coração de TriBeCa, a passerelle podia bem ter tido acesso directo à rua, porque o desfile reflectiu, precisamente, o estilo eclético e ousado de Nova Iorque. Depois, o desfile de Carolina Herrera que representou o glamour que ainda está associado a Nova Iorque. Estilo e sofisticação q.b., mas não só, o desfile decorreu no cenário tradicional da New York Fashion Week - a tenda em Bryant Park. Do branco, vislumbrado por entre as árvores do parque, entra-se para um mundo forrado a preto, iluminado por flashes e focos de televisão.

Mas afinal o que se procura na moda? Uns buscam inovação, originalidade, novos materiais, novas cores, novas formas e tendências. A colecção Primavera/Verão 2008 trouxe cores vibrantes, em notas cítricas, estampados étnicos, silhuetas alongadas e cinturas subidas. Mas, o que realmente importa, o que faz a diferença, resume-se a uma palavra, atitude. Se o que é preciso para que essa mesma atitude se manifeste é uma peça de roupa ou um acessório, so be it. Na era da massificação dos itens de luxo e em que o próprio conceito de luxo está a ser reinterpretado, o que conta é a experiência em si, algo que nos faz sentir especiais e prontos para enfrentar o mundo com confiança.

Fotografia: Carolina Herrera, colecção Primavera/
Verão 2008

[Publicado no Semanário Económico - 21 de Setembro, 2007]

Sep 15, 2007

NY Diaries 14: Washington, D.C.

We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness.

Declaration of Independence, July 4, 1776

Washington, District of Columbia, uma área que não pertence a nenhum Estado da Federação, a capital dos Estados Unidos da América em toda a sua solenidade. Há cerca de duas semanas estive em Washington, D.C. em trabalho. D.C. é, fundamentalmente, uma cidade institucional, onde muitos dos que nela trabalham ali não residem e que fica vazia quando o Congresso está de férias, tal como acontece em Agosto. Aliás, basta ir jantar a um desses restaurantes preferidos pelos políticos que normalmente estão à cunha, mas que estão quase vazios nesta altura do ano, para se ter essa confirmação. Há algumas cidades assim, por exemplo, Brasília ou Ancara, capitais de um Estado soberano, mas não capitais financeiras, traçadas e criadas para serem a capital, mas que, por vezes, parece que carecem de ser vividas, sacudidas pela realidade que existe para além de legislar e governar.

Para uma cidade que vive maioritariamente de pessoas de outras paragens, uma das premissas fundamentais é ter ligações práticas e desburocratizadas. Sim, não totalmente, uma vez que quem viaja de avião ainda tem que enfiar todos os recipientes com líquidos no ínfimo saquinho para congelar para passar a segurança. Mas pelo menos temos o Delta Shuttle, que é, basicamente, como apanhar uma camioneta, sem lugares marcados, embarque quase em cima da hora da partida e em que se pode alterar qualquer bilhete na própria porta de embarque.

E que mais faz de D.C. uma cidade sui generis? A ausência de arranha-céus, pois há uma lei que não permite que nenhum prédio seja mais alto do que o Capitólio; os edifícios de traça neoclássica desenhados por um francês, Pierre L'Enfant; as avenidas designadas por letras, em vez de números; os memorials ao redor da Tidal Basin, que nos recordam o incrível grupo de visionários que foram os fundadores deste país, bem como alguns dos Presidentes que lhes seguiram, o memorial dedicado a Thomas Jefferson, seguido pelo memorial a Franklin D. Roosevelt, e o enorme monumento a Abraham Lincoln com vista para o obelisco gigante que constitui o Washington Monument e para o Mall, a Avenida nobre da cidade com o Capitólio no extremo oposto a Lincoln.

Mas quando se fala de coragem, também se tem que notar o papel de Portugal em dar novos mundos ao mundo. Como diz um artigo sobre a exposição, Encompassing the Globe - Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries, que não tive oportunidade de ver e que está patente até 16 de Setembro na Smithsonian's Sackler Gallery, em D.C., os Portugueses foram, na verdade, os precursores da globalização.


[Publicado no Semanário Económico - 14 de Setembro, 2007]

Sep 1, 2007

NY Diaries 13: Chinatown

Há um ponto no mapa de Nova Iorque, com fronteiras, tal como se de um país se tratasse. Fronteiras traçadas nos mapas da cidade e que para além de identificarem um bairro, identificam uma amalgama cultural, um mundo dentro de outro mundo, como as pregas de uma saia, que têm uma cor ou padrão por fora, mas uma alma diferente por dentro que se manifesta de quando a quando para o exterior.

Essa cidade dentro da cidade tem duas faces, uma cinzelada em forma de máscara de tragédia grega, pseudo-ocidentalizada, a Chinatown dos turistas e das ruas a rebentar pelas costuras, sempre tão cheias de gentes e de tudo. Das lojas, bancas e quiosques, com jóias, brinquedos, artigos electrónicos e malas de senhora de imitação, dos pregões em forma de néon e das marcas bem conhecidas que desfilam nas passerelles de Paris, Milão, Londres ou Nova Iorque. Um mundo do faz de conta, mas em que a imaginação não vale nada, o que soma cifrões são as réplicas o mais fiel possível de uma realidade que está a uns quantos quarteirões mais acima, nas boutiques da 5.ª Avenida, Madison Avenue ou SoHo.

Por trás da máscara está o verdadeiro rosto de Chinatown, a cidade que vive de uma economia paralela, de imigrantes recentes que mal falam inglês e que recebem salários pouco elevados. A Chinatown dos supermercados de produtos com rótulos exclusivamente em caracteres chineses e dos bancos asiáticos em cada esquina. Neste passado Sábado estive, precisamente, nesta outra Chinatown, num casamento que tinha sido celebrado nessa manhã, de acordo com o rito chinês, durante uma cerimónia do chá só para a família em casa dos pais do noivo noutro bairro de Manhattan, Chelsea. Uma família que emigrou da China há mais de quarenta anos, mas cujos pais ainda hoje não falam uma única palavra de Inglês. Trabalhavam, fazem compras e vivem realmente neste outro bairro, objecto dos NY Diaries desta semana, Chinatown. É quase difícil acreditar, não tivesse eu sido apresentada aos mesmos para ser cumprimentada numa língua que para mim precisou de intérprete.

O casamento foi um verdadeiro banquete à moda chinesa, com dez pratos e vestidos de festa chineses. Também havia trajes Indianos e pessoas de muitas outras nacionalidades ou descendências, ou não estivéssemos em Nova Iorque. Noutro hino à diversidade, Nova Iorque celebrou esta semana o início do U.S. Open, com a voz de Aretha Franklin a invocar R.E.S.P.E.C.T. e as irmãs Williams a ganhar aos pontos. Foi muito diferente da minha experiência em Wimbledon em Junho passado. Afinal, foi um Grand Slam à Americana, muita diversidade sim, mas sempre há algumas coisas que only in America...

[Publicado no Semanário Económico - 31 de Agosto, 2007]