Na era do marketing, em que para além de se promover uma empresa, uma ideia ou uma marca, se fala também de marketing pessoal, temos ainda um novo fenómeno, o marketing de uma cidade ou até mesmo de um país. Muitos dos circunstancialismos que transformaram cidades como Nova Iorque e Londres em grandes metrópoles e capitais financeiras podem até ter sido parcialmente conjunturais, no entanto, quando o statu quo é posto em causa, estas cidades contra atacam com muita garra e de uma forma estruturada.
O mundo está em constante ebulição e se na história da humanidade há vários exemplos de ascensão e queda de impérios, hoje, a supremacia económica substituiu o domínio pelas armas e falamos, antes, em super poderes. Os gigantes do século passado estão em xeque, não apenas devido ao rápido crescimento económico de países emergentes, mas, no caso de Nova Iorque, por outros centros financeiros, nomeadamente, pela cidade mais parecida com Nova Iorque em termos de tecido económico, cultural e social, ou seja, Londres. Aqui a rendição não é uma opção e por isso em Janeiro do ano passado foi publicado um estudo comissionado à consultora McKinsey por Michael Bloomberg, o Mayor de Nova Iorque, que visou identificar os factores de risco à supremacia de Nova Iorque como capital financeira do mundo e propor algumas recomendações para reverter os recentes sinais de alarme. Nessa altura, Londres estava ainda confortavelmente sentado na sua poltrona a colher os proveitos da queda ou iminente queda de Nova Iorque. Mas como muitas vezes o rei vai nu e o sol é de pouca dura, na semana passada foi anunciado que também Londres encomendou um estudo semelhante à mesma consultora.
Se as reformas necessárias podem bem ser estruturais, passando pela reforma da regulamentação dos mercados, a verdade é que, primeiro, a proeminência de Nova Iorque está em risco; segundo, tal risco foi identificado antes do facto consumado; e, terceiro, é mais fácil salvar o paciente enquanto o mesmo ainda não está em fase terminal. Que as campainhas de alarme soaram a tempo, é sintomático do espírito que está imbuído na cidade e que é igualmente uma das razões do seu sucesso. Que os pequenos choques se podem transformar num terramoto, também é verdade, e aí todas as áreas podem sofrer as consequências, desde os geradores de riqueza, como as áreas que beneficiam da mesma, ou seja, a indústria de serviços, imobiliária ou mesmo o mundo artístico que perderia muitos dos seus patronos. Ninguém neste lado do Atlântico gostou de ler o relatório, mas não vale a pena enfiar a cabeça na areia e ainda bem que Londres também não o está a fazer. Há que reagir e vender a cidade. Afinal, nós, os que estamos aqui, viemos por uma razão, essas razões ainda existem e todos queremos que continuem a existir. Que melhor cidade do que Nova Iorque para se adaptar…