Acabada de aterrar de mais uma viagem à Europa, e aqui, ao designar a Europa no colectivo em vez de me referir a um país em específico, demonstro já uma influência americana, não precisei de um avião para voltar a partir rumo à Índia, onde estive no início deste ano. Viajei antes com a música, as imagens e as referências filosóficas do libreto de Satyagraha que invocaram memórias da minha viagem -- a memória dos últimos passos de Mahatma Gandhi em direcção ao seu assassino que vi demarcados no chão da sua última morada em Deli; a memória do local onde foi cremado, o Rajghat, marcado por uma pedra de mármore preta em forma de altar quadrado; e a memória da casa onde costumava ficar na antiga Bombaim, hoje convertida num museu em sua homenagem. Mas Satyagraha, a ópera da autoria de Philip Glass, aconteceu em Nova Iorque, não na Índia.
A nova produção de Satyagraha, uma co-produção entre a English National Opera e a Metropolitan Opera, teve a sua estreia em Nova Iorque na sexta-feira, dia 11. Uma visita à ópera em Nova Iorque é sempre especial. Os três edifícios imponentes, dedicados à música, ao ballet e à ópera, que compõem o Lincoln Center, conferem só por si uma atmosfera solene a qualquer visita. Por seu turno, o Nova Iorquino, em geral, veste-se de gala e segundo as últimas tendências da moda para o acontecimento. É comum ver vestidos de noite compridos, como se de uma feira de vaidades se tratasse. Mas dentro daquelas paredes homenageia-se, acima de tudo, a música e o canto.
Numa semana em que o Papa visitou Nova Iorque e sublinhou perante a Assembleia das Nações Unidas que o respeito pelos direitos humanos é essencial para o mundo. Satyagraha, a palavra em sânscrito para força da verdade, é precisamente sobre a luta de Gandhi pelos direitos humanos e a sua filosofia da não agressão como forma de protesto. A ópera é integralmente em sânscrito, com libreto inspirado pela vida e escritos de Gandhi e pelo Bhagavad Gita ou canção do senhor, um texto religioso Hindu que faz parte do épico clássico da Índia, o Mahabharata. A mensagem é intemporal mas esta produção reinventa a ópera de Glass de uma forma ao mesmo tempo surpreendente e inovadora. Resultado de uma colaboração entre dois artistas contemporâneos, Phelim McDermott e Julian Crouch, a cenografia está repleta de pormenores que providenciam uma nova dimensão à obra, como os novos materiais utilizados, as marionetas gigantes e ao facto do texto ser projectado no próprio cenário. No final, uma ovação de pé quando Philip Glass veio ao palco, também ele um Nova Iorquino. Em paralelo, a cidade reverbera com eventos ligados a Satyagraha, desde exposições, fóruns de debate e mega campanhas publicitárias, numa hiperactividade que só em Nova Iorque.
A nova produção de Satyagraha, uma co-produção entre a English National Opera e a Metropolitan Opera, teve a sua estreia em Nova Iorque na sexta-feira, dia 11. Uma visita à ópera em Nova Iorque é sempre especial. Os três edifícios imponentes, dedicados à música, ao ballet e à ópera, que compõem o Lincoln Center, conferem só por si uma atmosfera solene a qualquer visita. Por seu turno, o Nova Iorquino, em geral, veste-se de gala e segundo as últimas tendências da moda para o acontecimento. É comum ver vestidos de noite compridos, como se de uma feira de vaidades se tratasse. Mas dentro daquelas paredes homenageia-se, acima de tudo, a música e o canto.
Numa semana em que o Papa visitou Nova Iorque e sublinhou perante a Assembleia das Nações Unidas que o respeito pelos direitos humanos é essencial para o mundo. Satyagraha, a palavra em sânscrito para força da verdade, é precisamente sobre a luta de Gandhi pelos direitos humanos e a sua filosofia da não agressão como forma de protesto. A ópera é integralmente em sânscrito, com libreto inspirado pela vida e escritos de Gandhi e pelo Bhagavad Gita ou canção do senhor, um texto religioso Hindu que faz parte do épico clássico da Índia, o Mahabharata. A mensagem é intemporal mas esta produção reinventa a ópera de Glass de uma forma ao mesmo tempo surpreendente e inovadora. Resultado de uma colaboração entre dois artistas contemporâneos, Phelim McDermott e Julian Crouch, a cenografia está repleta de pormenores que providenciam uma nova dimensão à obra, como os novos materiais utilizados, as marionetas gigantes e ao facto do texto ser projectado no próprio cenário. No final, uma ovação de pé quando Philip Glass veio ao palco, também ele um Nova Iorquino. Em paralelo, a cidade reverbera com eventos ligados a Satyagraha, desde exposições, fóruns de debate e mega campanhas publicitárias, numa hiperactividade que só em Nova Iorque.
"Be the change you want to see in the world"
Mohandas Karamchand Gandhi
Mohandas Karamchand Gandhi
[Publicado no Semanário Económico - 25 de Abril, 2008]