Jun 21, 2008

NY Diaries 38: Brasil - O Novo Pulsar

O Brasil é sinónimo de cor, ritmo, exotismo e tropicalismo, entre tantos outros atributos e movimentos. Mas o que move o Brasil de hoje não é um novo ritmo musical, é, antes, a reinvenção do próprio país. Sente-se no ar um sentimento de oportunidade, o mote que moveu os antepassados dos brasileiros para outras paragens, incentiva hoje o brasileiro a ficar, batalhar e prosperar. Como dizia um taxista que me conduziu ao aeroporto em São Paulo, todos estão um pouco melhor, os que não tinham que comer ou os que não tinham carro, hoje têm, os que nunca tinham viajado, hoje já o podem fazer. Apesar dos contrastes, denota-se o florescer de uma classe média. Rico naquilo que o mundo de hoje procura, como matérias-primas, recursos naturais e biocombustíveis, o Brasil ganhou finalmente na lotaria.

Um país em expansão precisa também de uma metrópole a condizer. São Paulo, enorme na sua magnitude de mais de 20 milhões de habitantes, é a maior cidade e o maior centro financeiro da América Latina. Uma cidade que pude finalmente explorar melhor numa recente viagem de negócios ao Brasil para falar numa conferência e para reuniões. A cidade é o epicentro da cena artística brasileira, onde diversas galerias e museus convergem para mostrar a arte que se faz e a que se colecciona no Brasil. O Museu de Arte de São Paulo na Avenida Paulista é um must, na sua forma de caixa suspensa, num desafio aos conceitos de estética tradicionais e às leis da gravidade. Outro oásis de arte e, também, de vegetação, é o parque Ibirapuera onde se encontra o Museu de Arte Moderna, actualmente com uma exposição temporária intitulada Quando vidas se tornam forma: diálogo com o futuro – Brasil / Japão, parte das comemorações dos 100 anos de imigração japonesa no Brasil.

E que mais se pode fazer em São Paulo? Tudo. Uma cidade de excelentes restaurantes, com influências dos quatro cantos do mundo, cuja cozinha é complementada com a arte de bem receber, como só no Brasil. Um banho de compras na Meca do luxo, ou a Daslu, uma mansão maior do que o Bergdorf Goodman Nova Iorquino, onde se vende de tudo, desde roupa a Iates. O bairro dos Jardins, para as grandes marcas internacionais e para os estilistas locais, com lojas como a Galeria Melissa, uma sapataria com a entrada coberta com painéis de arte que mudam a cada três meses; a Rosa Chá, para fatos de banho e afins, pois há verdadeiros achados que não são exportados; ou ainda o Clube Chocolate, para uma mistura entre o produto local e o importado.

Que mais? O brasileiro adora futebol, mesmo que seja a "copa" europeia. Não se fala de outra coisa, afinal, sempre há Portugal para apoiar.

[Publicado no Semanário Económico - 20 de Junho, 2008]

Fotografias: Museu de Arte de São Paulo (canto superior esquerdo) e Galeria Melissa (em cima).

Jun 14, 2008

NY Diaries 37: Sexo e a Cidade

Sexo e a Cidade - o filme, está finalmente em cartaz nos Estados Unidos e em Nova Iorque. O filme, homónimo da série televisiva que estreou em 1998, continua fiel ao formato da série, centrando-se nas aventuras das mesmas quatro protagonistas, Carrie (Sarah Jessica Parker), Samantha (Kim Cattrall), Charlotte (Kristin Davis) e Miranda (Cynthia Nixon). O filme surge, no entanto, quatro anos depois, no seguimento de um mega sucesso televisivo que atravessou fronteiras e culturas. Uma série que contribuiu como nenhuma outra nos tempos mais recentes para o estatuto de estrela que Nova Iorque usufrui entre as grandes metrópoles cosmopolitas.

Embora os restaurantes da moda mostrados tanto no grande como no pequeno ecrã e muitas das referências do enredo sejam nova-iorquinas, o substrato é universal e esse foi também transposto para o cinema. Estamos a falar de mulheres em busca de sucesso numa grande cidade. Estamos a falar de amizade, de amores e desamores, de quebra de tabus, de cair por terra e agarrar os pedaços, reerguer e continuar em frente. Estamos a falar de esperanças, realizações e também, por vezes, de desapontamentos. Estamos a falar do dia-a-dia numa metrópole e se embora nem todas as referências na série sejam o espelho exacto da realidade de muitas mulheres fora de Manhattan, uma coisa é certa, O Sexo e a Cidade apela ao imaginário feminino e ao que constituem as preocupações das mulheres.

As opiniões sobre o filme dividem-se e fazem-se comparações mais ou menos abonadoras entre o filme e a série televisiva. Seja o filme melhor ou pior do que a série, esse não é o ponto. O filme veio dar resposta à procura. Ou seja, quem seguia a série achava que a estória não podia ficar por ali. Sim, procuravam-se vestidos de noiva para a Carrie e o desfecho da sua estória de amor/desamor e, de facto, o filme inclui muitos vestidos de noiva. Mas o que o filme mostra é a mulher noutro estágio de vida, mais instalada, não tanto em busca de amor, mas a viver esse amor e a tentar conciliar as exigências da vida moderna e da carreira com esse lado da sua feminilidade. Aí, mais uma vez a mensagem atravessa fronteiras. Se quando assisti à estreia do filme em Nova Iorque o público sentiu que aquele filme era para si, que celebrava o seu estilo e modo de vida nova-iorquinos. Esta atitude sente-se também um pouco pelas salas de cinema de todo o mundo. O filme acabou de estrear no Brasil, precisamente quando me encontrava em viagem de negócios em São Paulo, outra grande metrópole em que o filme está a fazer furor. Tal como o New York Times, a Folha de S. Paulo comparou a realidade com a ficção, incluindo testemunhos de várias mulheres que de uma forma ou de outra se identificavam com as quatro protagonistas.

[Publicado no Semanário Económico - 13 de Junho, 2008]

Jun 7, 2008

NY Diaries 36: Tradição

A tradição diz que o fim-de-semana do Memorial Day coincide com o começo não oficial do Verão. Pois, este ano, o tempo fez jus à tradição e no último fim-de-semana de Maio o tempo em Nova Iorque esteve glorioso. No fim-de-semana do Memorial Day inaugura-se tudo o que o Verão traz de bom, sejam os fins-de-semana nos Hamptons, os jantares ao ar livre, as explanadas ou, simplesmente, os piqueniques no parque.

Dita ainda a tradição que cada dois anos o Whitney Museum abre as portas à arte contemporânea americana. A visita ao Whitney para ver as actuais tendências no mundo da arte é um ritual quase obrigatório. Da história da bienal constam nomes incontornáveis da cena artística actual como Chuck Close, Jeff Koons, Cai Guo-Qiang ou Kiki Smith. Este ano a mostra é mais pequena do que em anos anteriores e a tónica é colocada em obras especialmente comissionadas para a bienal. Nota-se também um maior número de trabalhos audiovisuais. Entre as obras que considero de destaque contam-se as esculturas/quadros de John Baldessari, em invocação de temas surrealistas, ou os torsos de James Welling. No final, uma visita rápida à colecção permanente da Whitney para revisitar os eternos Hoppers.

Ainda para fazer jus à tradição, no passado dia 20 de Maio corri mais uma vez a Wall Street Run. Este ano, literalmente de Wall Street para a Wall Street Run ou directamente de reuniões na famosa rua para a corrida. Aqui, os eternos adversários na banca ou na consultoria esquecem as rivalidades e correm para uma causa comum, neste caso, angariar fundos para a American Heart Association. No fim, mais uma missão cumprida, e isso é o que verdadeiramente importa.

A tradição também diz que uma vez por ano a marinha e a guarda costeira Norte Americanas assentam arraiais na cidade. A chamada Fleet Week decorreu este ano entre 21 e 28 de Maio. Durante este período, a cidade encontra-se repleta de marinheiros em terra que não só se misturam com os "civis" e com o tecido da cidade, como também recebem a própria cidade que acolhem a bordo de muitos dos barcos participantes.

Para encerrar, e ainda de acordo com a tradição, celebrou-se no passado dia 24 de Maio os 125 anos da ponte de Brooklyn. Objecto de quadros, fotografias ou cena de filmes, com os seus arcos em estilo gótico, esta ponte suspensa é mais do que uma simples ligação entre Brooklyn e Manhattan, é, essencialmente, um símbolo da cidade. Assim, de acordo com o seu estatuto de "menina dos olhos" da cidade, a ponte vestiu-se de gala. Toda a gente esteve lá e a festa durou vários dias.

"City of ships!(O the black ships!
O the fierce ships!
O the beautiful sharp-bow'd steam-ships and sail-ships!)
City of the world! (for all races are here,
All the lands of the earth make contributions here);"

Walt Whitman, Leaves of Grass


[Publicado no Semanário Económico - 6 de Junho, 2008]